Olhares sobre o filme Do Começo ao Fim

Produção brasileira tem tirado fôlego do público antes mesmo de sua estréia

Por André Lima

Gabriel Kauffman, Lucas Cotrim, Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos

O filme brasileiro Do Começo ao Fim de Aluízio Abranches (Um Copo de Cólera), ainda sem data para estréia, apresenta dois temas considerados tabus no mundo todo, seja por conta de crenças e valores ou até mesmo por cor da pele e etnia: incesto e homossexualidade. O longa custou R$ 800 mil reais e está dividido em duas partes que mostra a infância de Thomás e Francisco, filhos de Julieta com pais diferentes, e posteriormente a vida adulta dos garotos. Confira o trailer

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“Interpreto a Julieta, que é a mãe dos meninos. Apesar de tratar de um incesto, acho que é uma história sem peso moral, mostra apenas uma passagem da vida deles. É um filme delicado, que traz uma mensagem: o quanto a vida seria melhor se as pessoas não julgassem”, Júlia Lemmertz falando sobre o filme em entrevista a Revista Quem do selo Globo.

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Sinopse
A história de Francisco, Thomás e de sua família é mostrada com uma narrativa particular, onde o filme pretende contar a história de um amor incondicional como uma possibilidade, como um contraponto para um mundo cheio de violência, medo e intolerância.

Thomás, filho de Julieta e Alexandre, nasce em 1986 com os olhos fechados e assim permanece durante várias semanas. Julieta não se preocupa e diz que quando o filho estiver pronto, que quando ele quiser, abrirá os olhos. Foi assim, nos primeiros dias de vida que Thomás aprendeu o que era livre arbítrio. Um dia, sem mais nem menos, ele abre os olhos e olha direto para Francisco, seu irmão de 6 anos.

Julieta é a peça chave para a aceitação do romance dos filhos, é uma linda mulher, médica de um hospital, uma mãe amorosa e torna-se a mediadora da história. Pedro, seu primeiro marido, é pai de Francisco e mora na Argentina com quem Julieta partilha de uma boa relação de amizade. Já Alexandre, atual marido, é pai de Thomas.

Durante a infância, os irmãos são muito próximos, talvez próximos demais, segundo Pedro, que passa uma temporada com eles em Buenos Aires.

Anos mais tarde, em 2008, quando os garotos passam da condição de crianças para adultos, Julieta morre repentinamente em um acidente de carro. Nesse ponto Francisco e Thomás se tornam amantes e começam a viver uma extraordinária história de amor.

Júlia Lemmertz, Marco Nanini e Louise Cardoso

Esse é o primeiro filme da Pequena Central, produtora de Marco Nanini em parceria com Fernando Libonati. O elenco é formado por Gabriel Kauffman (Páginas da Vida) e Lucas Cotrim (Amor e Intrigas), retratando a infância dos personagens, além de Júlia Lemmertz, Fábio Assunção, Louise Cardoso e a estréia de Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos. As gravações foram realizadas em Buenos Aires e no Rio de Janeiro e concluídas em setembro de 2008.

A repercussão prematura
A idéia que cerca o filme não é simplesmente transtornar o telespectador, mas sim de fomentar uma discursão sobre histórias que existem e são abafadas ou tratadas com hipocrisia, já que a presença dos mais tradicionais e da igreja condenam tudo aquilo que, segundo eles, não são aceitas por Deus ou por tal modelo não ser o correto para viver normalmente nos padrões da sociedade.

Na internet o trailer do filme tem causado grande alvoroço no Brasil inteiro e o público tem se sentido provocado pela história. Dessa forma a estréia de Do Começo ao Fim é aguardada com muita esperança por parte de quem vê também uma reinvenção no cinema brasileiro.

“Cara, tô esperando muito, acho que vai ser um dos grandes filmes brasileiros que pode alcançar o sucesso internacional. Acho que vai implantar uma polêmica ainda não vista no Brasil, misturando família e homossexualismo, mexendo com dois tabus cristãos no maior país católico do mundo, uma tacada de mestre! O filme não parece ter nada de apelativo e parece ser também um show de interpretação. Brokeback Moutain vai virar farinha!”, Ney Hugo – baixista da banda Macaco Bong, membro do núcleo de comunicação do Espaço Cubo (MT) e colaborador ativo do Circuito Fora do Eixo.

Os temas abordados certamente não condizem com aquilo que é mostrado na tevê e nas conversas que cercam a mesa de jantar das famílias mais conservadoras. Mas além do “incesto gay” que se faz presente no filme, outro ponto muito importante tem despertado o interesse do público.

“Achei o tema que envolve o filme ousado, serve pra mostrar um lado da homossexualidade que não é notado pela sociedade, uma relação de amor entre duas pessoas que passa longe das orgias que é tão taxada na relação gay. Parece mostrar uma outra ótica, mas que não deixa de ser amor e mais leal até que muitos outros relacionamentos ditos normais que existem por aí”, Thalyta França – acadêmica de Arquitetura e Urbanismo e membro do Coletivo Catraia.

“Falar de temas como este demonstra a maturidade do cinema brasileiro, tanto do ponto de vista das produções como do consumo, já que espero vê-lo no circuito comercial. Os temas, claro, devem gerar polêmica, mas minha maior expectativa é me surpreender com o que pode estar por trás destes temas e concluir que, como afirma um dos personagens, para entender o amor deles seria preciso virar o mundo de cabeça pra baixo... Então, que venha logo o filme!”, Yure Lobo – consultor em turismo (PR).

Uma especulação da grande mídia foi quanto à participação do jovem ator Gabriel Kauffman no papel de um dos irmãos. Sua mãe, Denise Kauffman, respondeu ao site O Fuxico: “Os irmãos se apaixonam, mas o filme não mostra nada de concreto entre os dois enquanto são crianças, nenhum contato físico. Todo o amor que ele sente pelo irmão mais velho é apenas insinuado. Eu não poderia proibi-lo de fazer esse filme, primeiro porque seria um preconceito bobo de minha parte e, segundo, pelo fato de o longa ser muito delicado e belíssimo”.

A pergunta realmente torna-se válida porque é um dos questionamentos que o telespectador se faz: como uma mãe deixa um filho atuar nesse tipo de produção e será que o despertar desse tema pode causar alguma conseqüência séria nessa criança?

“Não acho errado permitir a atuação porque é um trabalho, o garoto é ator, então ele está trabalhando e ainda com a permissão da mãe. Seria o mesmo se fosse pra atuar com uma menina, então não acho que por isso o garoto será influenciado a dúvidas quanto a sua sexualidade, acho que isso depende da tendência natural de cada um”, Patrícia Amaral – Jornalista.

Opiniões a parte, muitas são as expectativas e sentimentos que o trailer do filme causa, por esse fato Do Começo ao Fim já conta com uma legião de fãs que pela internet e mesmo no boca a boca tem divulgado a história fictícia de Thomás e Francisco.

Resta agora esperar pelo lançamento do filme para classificar seu nível e relevância no cinema brasileiro e em nossas vidas. O acriano também já pode começar a torcer para que o longa chegue rapidamente às salas de cinema da terrinha, pelo menos esse é um dos desejos deste que vos escreve.

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*Sinopse retirada do site oficial do filme – Do Começo ao Fim
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Confira uma entrevista com o elenco do longa Do Começo ao Fim durante as filmagens aqui. Essa reportagem foi ao ar no programa Revista do Cinema Brasileiro do Canal Brasil.