terça-feira, 19 de maio de 2009

É cafona... Mas é bonito!

Biografia de Renato Russo apresenta perfil bem delineado do líder musical: poeta-músico-sonhador

Renato Russo, o trovador solitário

Por Giselle Lucena

Não é espetáculo teatral, cinema ou festival de música. Mas bem que a história poderia render uma peça, um roteiro e certamente, de trilhas sonoras estaria com recheio duplo. O personagem principal é Renato Russo, mas o enredo não é de Faroeste Caboclo ou Eduardo e Mônica. Em “O Trovador Solitário” (Ediouro), o vocalista de uma das mais populares bandas de rock do país aparece num perfil bem delineado: um poeta-músico-sonhador, do tipo que sofre, traduz a vida nas canções e não desiste de correr atrás dos sonhos – seja lá o que isso implique.

Legião Urbana - uma das bandas de rock mais populares do país

A biografia escrita por Arthur Dapieve, mostra um Renato Russo intelectual, não apenas um revolucionário roqueiro rebelde; não apenas mais um na lista dos “bons que morrem jovens”; homossexual e que tinha Aids. Renato Manfredini Jr. também foi professor de cultura inglesa, fã de música clássica e integrante de banda fictícia. O livro conta a vida do músico simultaneamente à produção dos discos da Legião Urbana, de temáticas políticas, pessoais, românticas, universais. O leitor que tem ou teve uma banda entenderá certas questões com mais facilidade; aquele que nunca teve, ficará louco para montar um grupo musical e entrar numa turnê (mesmo com tanta controvérsia no glamour que há em ser integrante de uma banda de rock).

O autor, Arthur Dapieve, é crítico musical, vice-reitor acadêmico e professor de Jornalismo da PUC-RJ. Também escreveu BRock: O rock brasileiro dos anos 80 (Editora 34), entre outros.

Respeito e ética: permitido para menores

Autor da biografia é jornalista é crítico musical

Mas como é escrever a história de um músico que não se sentia à vontade para tratar de temas como identidade sexual, dada a enorme parcela de crianças entre os seus fãs? Sobre alguém que tinha perfeita consciência da responsabilidade social de um artista? Para produzir a biografia, o jornalista Arthur Dapieve ficou atento às preocupações de Renato Russo e uniu ética jornalística e respeito ao músico que se sentia desconfortável no papel de novo porta-voz da juventude. Dapieve integrou a mesa redonda sobre Música, durante o I Congresso de Jornalismo Cultural realizado pela Revista Cult, em São Paulo, no início de maio. Na oportunidade, fiz algumas perguntas ao escritor, confira:

Quanto tempo foi gasto para a produção do livro, desde a pesquisa até a publicação?

Arthur Dapieve: O tempo entre a pesquisa propriamente para o livro e a publicação foi muito rápido, porque fez parte de uma coleção em que os livros eram produzidos em seis meses, e eu o escrevi em sete. Mas sem saber, iniciei essa pesquisa desde que comecei a escutar a Legião Urbana, que foi mais ou menos na mesma época em que eu estava começando como jornalista. Portanto, o primeiro show eu fui apenas como ouvinte, já o segundo já fui cobrindo. Eu não tinha como saber que todo aquele material iria um dia me servir como matéria de pesquisa, mas quando me convidaram para escrever a biografia do Renato Russo, eu aceitei, já tinha muito material e muitas entrevistas gravadas com ele que não foram aproveitadas por completo.

O livro é em grande parte fundamentado em fitas com entrevistas que você fez com o músico. Mas também foram feitas entrevistas complementares com familiares e amigos. Dessa forma, como selecionar as fontes mais confiáveis entre as tantas disponíveis, para escrever uma biografia de alguém tão popular?

Arthur Dapieve: Não só as mais confiáveis, mas aquelas que... Bem, eu queria fazer um perfil artístico, então não me interessava muito o amigo que era amigo de farra, a parte privada da vida do Renato não me interessava muito porque é uma parte que ele sempre procurou manter privada, e eu me sentiria traindo um personagem que eu conheci se eu tornasse o livro sensacionalista ou algo parecido. Então isso me impulsionou como um norte, pessoas que trabalharam com ele e que tiveram uma representatividade que não seja só porque trabalharam com ele. A maior parte das declarações do Renato Russo no livro foi prestada exclusivamente para mim. Fora isso, fiz cerca de 17 entrevistas complementares, em relação àquelas que eu já tinha feito com o músico.

Tendo como foco a vida profissional do artista, muita coisa já é eliminada. No entanto algumas questões pessoais são indispensáveis na história. Teve algo que o fez ponderar no meio do caminho: “eu publico ou não publico isso”?

Arthur Dapieve:
Não, porque até coisas que eu já sabia e que poderiam estar em outro livro eu decidi que não estariam nesse. Na noite de autógrafos no Rio de Janeiro eu respirei aliviado ao ver a quantidade de crianças que estava na fila. O Renato tinha muita preocupação em fazer músicas sem palavrão, para crianças, então eu acertei: ‘esse público aí vai ser contemplado’. E o público da Legião tem uma relação muito estreita com a banda, eles seriam os primeiros a rechaçar o livro se eu tivesse sido antiético, porque a Legião é, sobretudo, sobre ética.

Nenhum comentário:

Contador de visitas
Contador de visitas